quinta-feira, 26 de agosto de 2010

O SOL, O MEU SÃO MIGUEL

Pela estrada de Santa Cruz, ainda menino de olhar bobo, várias vezes eu me perguntei:
Por que São Miguel Arcanjo fica escondido lá na Igreja e não vem brincar com réstias de Sol que faiscam no ribeirão, mistérios dourados que não se pegavam com as mãos?
Não gostava de ver São Miguel Arcanjo entre as sombras da Igreja, quieto, frio e triste.
Aquela é só a figura dele, diziam, e eu me consolava.
Mas o São Miguel de verdade onde estaria?
No céu, respondiam com preguiça os mais velhos.
Céu de noite ou céu de dia?
E os mais velhos saiam resmungando sem responder.
Então, eu mesmo achei que São Miguel era de um céu de dia.
E os galos cantavam alegres quando ele aparecia. E cantavam tristes quando ia embora.
O Sol era meu São Miguel e assim foi até que me puxaram a orelha. E quem puxou foi meu avô congregado mariano e que eu nunca mais ficasse a pensar bobagem.
Cresci, descambei pelo mundo, me esqueci de mim.
A gente cresce para se esquecer de si mesmo. Mas, uma dia a gente se lembra e quando se lembra sente que toda a verdade passa apenas pelos tempos de criança. O resto é mentira.
E assim eu estou voltando ao Sol, o meu São Miguel.

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